domingo, 24 de fevereiro de 2008

O drama de Ronaldinho: novela mexicana ou campanha publicitária?

Contusão de Ronaldo: novo drama após má fase e rejeição por torcedores europeus

Não há quem não se compadeça de uma causa tão melancólica. É triste - é verdade - ver um grande atleta caído, pela segunda vez, com o rosto transfigurado pela dor e pela angústia de ficar por longo tempo impossibilitado de jogar futebol. Qualquer ser humano, em um momento desses, fica compungido e emocionado.
O que não dá - não dá mesmo! - para disfarçar, é a sensação de dois pesos e duas medidas com que a imprensa do mundo inteiro está tratando essa situação. Depois daquela vergonha que foi a final da Copa do Mundo na França, fica meio difícil acreditar se tudo isso é compaixão de verdade ou mais uma estratégia fulminante da Nike para manter seu garoto-propaganda vitalício em evidência.
Podem achar que é cruel ou grosseiro falar disso agora, mas os primeiros movimentos são capciosos e patéticos. Pelo que já percebemos, passaremos os próximos nove meses sabendo de tudo, diariamente, em todos os telejornais e páginas mais importantes da mídia: o que ele comeu, como ele acordou, com quem ele dormiu, que cor era seu chinelo etc. É uma disputa megalômana e oca para saber quem sabe mais da vida do Ronaldinho.

Visual mórbido: camisa preta com caveirão para quem se recupera de uma cirurgia???
A notícia da "alta" de Ronaldinho teve momentos de pura apelação e dramaticidade dignas de novela mexicana. Parecia tratar-se de um doente desenganado saindo da UTI. Parecia, pelo otimismo forçado e pela falsa empolgação de todos os que cobriam o fato, que Ronaldo havia ressuscitado. Cheguei a acreditar que ele já estaria escalado para jogar a próxima partida de seu time...
Ora, quem faz uma cirurgia de tendão ou ligamento ou menisco... precisa desse aparato de reportagem histérico, plantado na porta da enfermaria, noticiando a "alta", como se fossea recuperação de um paciente terminal?
Fala-se em nove meses como se fossem duas semanas. Aposta-se em sua eterna "força de vontade" para voltar aos gramados - um quadro difícil, improvável, que requer muito mais esperança e fé do que especulação e sensacionalismo. Apesar disso, o ôba-ôba corre solto: chegaram a dizer, até mesmo, que o jogador pretende encerrar sua carreira no Flamengo, seu "time de coração".
Será que a torcida do Flamengo é inteligente o suficiente para perceber que é mais fácil "encerrar a carreira no Flamengo" do que "cumprir a carreira no Flamengo"? Será que as mesmas juras de amor e fidelidade não seriam suficientes para ele, em outros momentos de "auge" - já milionário e cheio de notoriedade - jogar uma temporada pelo clube que diz amar? Os critérios para se questionar isso não parecem tão "profundos" como os que se adota para "cobrir" o dia-a-dia do jogador recém-operado.
O que se vê é isso: o jogador com cara de pobre coitado, nas coletivas ou "exclusivas" de imprensa, cumprindo essa travessia patética e melodramática, tão desprovida de sentido e desnecessária para a já tão dura jornada que o momento real apresenta.
As duas contusões sérias que Ronaldo teve podem ser comparadas à estranha diarréia/convulsão/desmaio que ele teve naquela final de Copa do Mundo que acabou em CPI. O curioso é que a mesma "grande mídia" pareceu muito satisfeita e pouco investigativa quanto às causas reais daquela "amarelada" feia, que redundou num 3x0 vergonhoso para a França. Ao contrário do que se vê agora, naquela oportunidade surgiram, em off, inúmeras versões sobre o ocorrido. Todas elas foram solenemente abafadas ou pouco exploradas - a exemplo do que ocorreu com a própria CPI que investigava o caso.

Cirurgias desse tipo são feitas em vários atletas, sem a mesma repercussão.
Claro: dirão que Ronaldo é Ronaldo, não um atleta qualquer.
Não tenho dúvidas. Disso, todo mundo sabe.
O que já não se sabe, a estas alturas do campeonato, é por que ele é diferente.
Se por tudo que jogou até hoje ou por causa da marca que o patrocina.
Eis a questão...

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