David Beckham e o preço de uma vida
A contratação do astro inglês David Beckham pelo clube espanhol Real Madrid foi o principal assunto esportivo do mundo inteiro nas ultimas semanas. O passe de Beckham custou 30 milhões de euros ao Manchester United, seu ex-clube. Seu salário será de 8 milhões de dólares ao ano - sem contar a estimativa de aproximadamente 12 milhões de dólares que o craque fatura, por temporada, só em publicidade. O clube espanhol espera multiplicar em aproximadamente 200% o investimento, uma vez que Beckham é mais que um jogador de futebol: sua fama alcançou o patamar de um popstar. A popularidade do craque em países asiáticos, por exemplo, é um fenômeno: ele tem uma estátua sua no templo budista mais importante da cidade, e seus cortes de cabelo fazem literalmente a cabeça dos garotos nipônicos. A imagem vistosa de David Beckham figura na moda, na publicidade e nos noticiários full time. A camisa 23 que ele vestirá pelo time madrileno já bateu um recorde: vendeu mais de 8 mil unidades em apenas 7 horas, faturando aproximadamente 624 mil euros! Essa estranha associação de uma vida a valores tão elevados (e inimagináveis em um país como o nosso) parece ponto de reflexão para a seguinte questão: quanto vale, realmente, uma vida?
Em seu tratado revolucionário sobre economia, o alemão Karl Marx (1818-1883) desenvolveu uma tese que evidenciava a transformação social exercida pelo capital em uma sociedade. Para Marx, havia implicações específicas nas relações pessoais a partir do momento em que a economia desencadeada pela Revolução Industrial se ampliava, e essas implicações estavam diretamente relacionadas ao conceito de mais-valia, ou seja, a diferença real entre o valor do produto e o valor pago ao operário. O que essa teoria demonstra, em linguagem franca, é que o operário nunca recebe o pagamento proporcional ao lucro que dá ao patrão com seu trabalho. Esse foi um dos conceitos expostos pela teoria marxista, e a economia política abriu precedentes para que se entendesse que o trabalho de nossas mãos tem um valor específico. Até chegarmos a um entendimento de que, numa sociedade capitalista e comercial, as pessoas são medidas por seu valor econômico, como moedas vivas, também. Diz a Palavra de Deus que "o trabalhador é digno de seu salário" (Lucas 10:7). De fato, o trabalho humano (conseqüência do pecado original, quando Deus determinou ao homem: "No suor do teu rosto, comerás o teu pão" - Gn 3:19) passou a ser medido por um coeficiente - o salário - que atenta para seu efetivo valor.
A Bíblia nos mostra que José foi vendido por seus irmãos por 20 moedas de prata (Gn 20:16). Jesus também foi vendido por Judas, e seu "passe" custou 30 moedas de prata (Mt 26:15). A associação do homem a um valor monetário aparece até mesmo nas Sagradas Escrituras, e é através do dinheiro que as pessoas, em nossos tempos modernos, costumam julgar as outras pessoas. Sempre em função daquilo que se tem, quase nunca em função daquilo que se é.
O preço de uma vida, no entanto, é algo extremamente alto, elevado. Não pode ser expresso em valores monetários, numéricos, em cédulas tão somente. O homem, separado de Deus pela prática do pecado, não poderia jamais dele se reaproximar sem que fosse pago um alto preço. Já que desde o pecado de Adão a expiação de pecados passou a ser feita pelo sangue de animais, era preciso um sacrifício de sangue perfeito, através de um cordeiro capaz de tirar os pecados do mundo, para reconciliar o homem com Deus em definitivo, sem a seqüencial oferta de sacrifícios. O capítulo 10 do livro de Hebreus é catedrático no assunto: ele mostra que a constante expiação pelos sacerdotes afirmava a ineficiência do próprio sacrifício. Só Jesus Cristo - Cordeiro de Deus - podia dar-se como oferta e como sacrifício definitivo e irreversível, pagando o preço da salvação.
Em 1 Tm 2:6 está escrito que "Jesus deu-se a si mesmo em preço de redenção por todos". A função sacrifical de Cristo aponta não para valores humanos, mercadológicos ou cotações: ela vem preencher essa necessidade de resgate eterno. A pergunta que não quer calar está em Mateus 16:26: "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?". É, pois, acerca da salvação da alma, da ministração de vida eterna, que o sacrifício de Jesus se deu na cruz do calvário. O capítulo 9 do livro de Hebreus ilustra claramente, a partir do versículo 11 até o 15, que a vida é um dom de Deus, e que Deus enviou seu filho, o Perfeito Sacerdote, para nos resgatar e pagar o preço devido por nós, através da glória e do poder de seu sangue.
Não importam quais sejam as nossas dificuldades, nossos desafios, a vida que levamos, os tormentos, as pressões do mundo material. O chamado de Deus para nossas vidas nesses dias maus é esse de Mateus 11:28: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". A sociedade mercadológica estipula preços e valores para homens de talento e reconhecimento como David Beckham. Mas é maravilhoso sabermos que, diante do Senhor, todos nós temos o mesmo valor, e fomos comprados pelo mesmo preço: o preço de sangue que ele derramou no calvário por todos aqueles que o aceitam como Senhor e Salvador, vencendo a morte, o inferno e o poder do pecado.
Hélio Ricardo
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